quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Faça sua revolução na internet

O ano de 2011 marcou um verdadeiro renascimento dos levantes e passeatas ao redor do mundo. A onda começou na Tunísia e Egito, que depuseram seus ditadores, e chegou à Europa com milhões nas ruas da espanha protestando contra a situação do país. e não parou por aí.

O movimento auto-organizado e apartidário, no melhor estilo de política faça-você-mesmo, se replicou na Grécia e chegou aos EUA, com o Occupy Wall Street. A manifestação contra o poder excessivo dos bancos e das grandes corporações se iniciou com um pequeno grupo tomando uma praça no coração financeiro de Nova York e se espalhou por cerca de 1.500 cidades mundo afora. Até o Brasil teve direito às suas versões, tímidas, em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Esses movimentos todos — que usaram canais como YouTube, Twitter e Facebook para se articular e ganhar massa — mostram uma nova forma de ativismo. Ele não se baseia no instinto de combate e rebeldia das passeatas contra a Ditadura ou a Guerra do Vietnã, nos anos 60, mas em se sentir parte de um todo. A internet e as redes sociais fortaleceram nossa necessidade de compartilhar ideias e colaborar uns com os outros. “As causas passaram a ser a principal forma de nos conectarmos. Daí as pessoas estarem tão dispostas a integrar movimentos”, diz a jornalista norte-americana Tina Rosenberg, autora do novo livro Join the Club: How Peer Pressure Can Transform the World (Junte-se ao Clube: Como a Pressão Social Pode Transformar o Mundo, sem edição brasileira).

Essa vontade de se unir para defender ideais vale não apenas para causas de peso, como derrubar presidentes ou protestar contra a selvageria do capitalismo. Por trás dessas grandes bandeiras, há milhares de outras, menores, mais segmentadas, até mesmo pessoais — como fazer uma viagem, defender as bicicletas como meio de transporte ou conseguir dinheiro para uma instituição — que também encontram seus seguidores. Mesmo que não sejam milhares, eles podem ser suficientes para uma transformação.

Se antes revolução significava uma multidão nas ruas em defesa de uma causa única, hoje esta imagem se fragmentou: são vários pequenos grupos que defendem várias pequenas causas. Nem por isso, elas têm menos força. “Estamos acostumados com a palavra global significando ‘realmente grande’. Mas hoje, graças à internet, é possível termos uma organização global minúscula”, afirma o professor do Programa de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova York Clay Shirky, autor do livro A Cultura da Participação. Sendo assim, se você tem uma causa para lançar, chegou a hora. Há uma multidão aí fora disposta a se engajar em movimentos, colaborar com projetos e ações. Você há de encontrar a parte interessada e levantar sua bandeira.
Guia rápido da persuasão
Um especialista em convencer pessoas que não querem ser convencidas, o coordenador de uma escola de ativismo e o criador do site brasileiro de financiamento colaborativo ensinam como conseguir seguidores para uma causa 


1 > USE AS REDES SOCIAIS
Um post ou comentário na internet é para sempre. Esse é o diferencial das mídias sociais em relação às formas de divulgação convencionais, como jornal ou TV. Quando você coloca algo no Twitter ou Facebook, é possível revisitar aquele conteúdo quantas vezes se quiser. E a mensagem tem chance de permanecer por muito mais tempo na consciência das pessoas.

2 > MAS NÃO FIQUE PRESO A ELAS
Embora as redes sociais sejam um belo meio de divulgação, um movimento precisa ir para o mundo offline para ganhar corpo. Os protestos contra a violência da polícia inglesa ocorridos em Londres em agosto, por exemplo, começou na internet, mas só teve repercussão quando tomou as ruas.

3 > ORGANIZE-SE Planejamento é a palavra-chave para quem quer fazer sua causa vingar. Antes de lançar a sua, saiba quem é seu público-alvo. Quais os blogs você irá contatar para ajudá-lo na divulgação, por exemplo. Crie uma campanha, faça um vídeo explicativo e lance no YouTube. Não dá para saber de antemão se o movimento vai emplacar, mas é possível dirigir sua abordagem de acordo com o público que se quer atingir.

4 > SEJA VERDADEIRO E EMOCIONE Se você não acredita 100% naquilo que prega, dificilmente vai conseguir fazer com que outros acreditem. É preciso ter brilho nos olhos e caprichar no drama. Se a ideia é fazer um intercâmbio com financiamento coletivo, ressalte que nunca foi para o exterior e o quanto sempre quis isso. Se o objetivo é fazer com que as pessoas ajudem uma comunidade na África, mostre como é a (péssima) condição de vida delas ali.

5 > ENCONTRE AS PESSOAS CERTAS Não saia tentando convencer qualquer um. Economize energia. O melhor alvo é aquele capaz de fazer sua causa ser a mais propagada possível. Por isso articule aqueles seus amigos que conhecem todo mundo e para quem as pessoas sempre pedem dicas. Os formadores de opinião também são importantes não só pela quantidade, mas pelo tipo de pessoa que conhecem.

6 > CONQUISTE UM DE CADA VEZ
Você não vai fazer com que todos os seus conhecidos se engajem no seu movimento logo de cara. Por isso, é importante ter em mente que cada novo membro é imprescindível para fazer a coisa prosseguir — como uma peça de dominó que vai derrubando as outras.

Fonte: Joel Bauer, autor do livro How to Persuade People Who Don't Want to Be Persuaded (Como Persuardir Pessoas Que Não Querem Ser Persuadidas, sem edição no Brasil), Diego Reeberg, um dos criadores da rede de financiamento colaborativo Catarse e Marcelo Marquesini, coordenador da Escola de Ativismo, de São Paulo.

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